Hipnose como tese de Doutorado

Hipnose: Surpresa e Hipnoidal como Fatores da Mudança Terapêutica nos Distúrbios Emocionais

Autora: Maria Ángeles Ludeña Martins

São diversas as investigações sobre hipnose que evidenciam as expectativas (e as crenças/atitudes) sobre hipnose como determinantes da resposta às sugestões hipnóticas. Nomeadamente, que as expectativas positivas em relação à hipnose constituiriam variáveis psicológicas determinantes, não só para a ocorrência de resposta hipnótica, mas, igualmente, e em especial, no sentido da mudança terapêutica. Todavia, recentemente, diversos estudos e autores têm colocado em questão esta perspetiva (Benham, Woody, Wilson, & Nash, 2006; Lifshitz, Howells, & Raz, 2012), atribuindo às expectativas um papel muito menor quanto à magnitude da influência na responsividade hipnótica. Na sequência destas pesquisas e propostas teóricas, a que juntamos a nossa experiência com o uso de hipnose clínica, formulámos a hipótese de que a indução hipnótica/sugestões hipnóticas provocam surpresa (pela violação das expetativas) e mudança no estado psicológico da pessoa, exercendo a interação entre ambos os acontecimentos, uma influência direta na mudança terapêutica (e não as expectativas, as crenças ou as atitudes). Para realizar este estudo empregámos os seguintes instrumentos: PCI Phenomenology of Consciousness Inventory (Pekala, 2002 – Tradução e validação para a população portuguesa de Ludeña, na presente investigação), o CES-D (The Center for Epidemiologic Studies Depression Scale) de Radloff (1977, adaptado por Fagulha & Gonçaves, 2000), Escala de autoavaliação de ansiedade de Zung (Zung, 1971 – Adaptação de Vaz Serra e col. 1982), Escala de avaliação do efeito surpresa (Ludeña, 2010). Nesta investigação utilizamos uma amostra clínica de 82 pessoas com diversos distúrbios emocionais (ansiedade, depressão). As pessoas preencheram os questionários relativos à ansiedade e depressão e, posteriormente, foram expostas de forma individual a uma experiência hipnótica, em contexto clínico, com sugestões terapêuticas, sem que elas soubessem a natureza dessa experiência. Imediatamente depois da dita experiência preencheram o PCI e a escala de avaliação da surpresa. Passada uma semana, voltaram a preencher os questionários de ansiedade e depressão. As variáveis dependentes neste estudo foram a mudança terapêutica e a experiência subjectiva de hipnose (fenomenologia), sendo a mudança terapêutica operacionalizada como a diferença de ansiedade e depressão antes e depois da experiência com hipnose. O nível de surpresa e o estado hipnoidal (do PCI) foram as variáveis independentes. Tanto a análise da variância como a análise de regressão múltipla hierárquica mostraram uma significativa influência do nível de surpresa mais o estado hipnoidal na mudança terapêutica. Também se observou uma significativa e forte correlação entre estas mesmas três variáveis. Os resultados encontrados apontam para direção diferente à da implicação fundamental das crenças e das expectativas, salientando um papel decisivo para a surpresa e para o estado hipnoidal tanto no respeitante à experiência subjetiva de hipnose, como para a própria mudança terapêutica.

(Pelo link abaixo você tem acesso ao pdf com a tese completa)

https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/24523