Cérebro pode ser treinado para curar doenças
Cientistas brasileiros desenvolveram técnica que modifica conexões e abre caminhos para tratar AVC, Parkinson e até depressão
Roberta Jansen- 17 ABR2019
O cérebro se adapta a todo momento – um fenômeno conhecido como neuroplasticidade. Essas mudanças na forma como funciona e conecta suas diferentes áreas são as bases do aprendizado e da memória.
Entender melhor essas interações permite o avanço na compreensão do comportamento humano, das emoções e também das doenças que acometem o cérebro. “Tudo o que a gente é, faz, sente, todo o nosso comportamento é reflexo da maneira como o nosso cérebro funciona”, explica o neurocientista Theo Marins, um dos autores do estudo.
Algumas doenças, segundo o especialista, alteram esse funcionamento. E o cérebro passa a funcionar de maneira doente. “Ensinar” o cérebro a funcionar de maneira correta pode melhorar os sintomas de várias doenças.
Uma das ferramentas que vem sendo utilizadas para compreender melhor essas dinâmicas é o neurofeedback. Assim é chamado o treinamento do cérebro para modificar determinadas conexões. O estudo dos neurocientistas do Instituto IDOR de Ensino e Pesquisa e da UFRJ mostrou que o treinamento é capaz de induzir essas modificações em menos de uma hora.
Para fazer o trabalho, os cientistas contaram com 36 voluntários que se submeteram a exames de ressonância magnética. A atividade neuronal captada no exame é transformada em imagens apresentadas em computadores de acordo com a intensidade. Os voluntários acompanhavam as imagens em tempo real, aprendendo a controlar a própria atividade cerebral.
Antes e depois
Ao comparar a arquitetura cerebral antes e depois do treinamento, os cientistas constataram que o corpo caloso (a principal ponte de comunicação entre os hemisférios esquerdo e direito) apresentou maior robustez estrutural. Além disso, a comunicação funcional entre as áreas também aumentou. Para os pesquisadores, é como se o todo o sistema tivesse se fortalecido.
“Sabíamos que o cérebro tem uma capacidade fantástica de modificação. Mas não tínhamos tanta certeza de que era possível observar isso tão rapidamente”, conta Marins.
Desta forma, o treinamento cerebral se revelou uma ferramenta poderosa para induzir a neuroplasticidade. Agora, os pesquisadores esperam utilizá-lo para promover as mudanças necessárias para recuperação da função motora em pacientes que sofreram um AVC, que foram diagnosticados com Parkinson e mesmo com depressão.
“O próximo passo será descobrir se pacientes que sofrem de desordens neurológicas também podem se beneficiar do neurofeedback, se ele é capaz de diminuir os sintomas dessas doenças”, disse a médica radiologista Fernanda Tovar Moll, presidente do IDOR. “Ainda falta muito para chegarmos a protocolos específicos. Quanto mais entendermos os mecanismos, mais terapias poderemos desenvolver.”